“ Minha vida é andar por este país, pra ver se um dia descanso feliz...”
Os versos são de Luiz Gonzaga, mas se aplicam muito bem ao seu afilhado Dominguinhos, também cantor, compositor e sanfoneiro famoso.
Depois de 72 anos de estrada, Dominguinhos fez na ultima viagem rumo à eternidade. Na sua longa jornada da vida, Dominguinhos seguiu por muitas estradas. Desde os 13 anos, partiu de Garanhuns rumo ao Rio de Janeiro em busca da fama projetada sobre ele, à medida que seguia as pegadas de Luiz Gonzaga. Iludido pela fama, seguiu o exemplo dos famosos passando por três casamentos, conquistando alguns prêmios, mas perdendo a batalha final.
Ver Dominguinhos cantando ou dando entrevistas era interessante. Ele fez parte de uma geração de artistas cada vez mais raros: que fazem arte com as palavras, não jogo de palavras talvez por herança cultural do sertão, Dominguinhos falava com o coração, usando a música e a poesia como válvula de escape para as angustias da sua alma de artista.
Como todo verdadeiro artista, Dominguinhos era um viajante sofredor. Como todo homem, ele seguia seus caminhos “por esse país” tentando chegar ao ponto do “descanso feliz”. No entanto, por seu próprio testemunho, parece que o “descanso feliz” nunca chegou. Vendo seu ponto de chegada cada vez mais distante, tentava preservar a vida, e por isso, há mais de 20 anos deixou de viajar de avião. Impôs a si mesmo essa limitação a fim de tentar ganhar mais tempo na sua peregrinação. Assim seguiu seu caminho, “levando recordação, das terras onde passei, andando pelos sertões e dos amigos, que lá deixei”. Um verdadeiro peregrino sob o vigor do sol e da chuva, “seguindo o roteiro mais uma estação”. Uma jornada sofrida com o coração cheio de saudades na qual guardava apenas recordações dos amigos, que aos poucos desaparecem no retrovisor do tempo.
Fernando Pessoa disse que “o poeta é um fingidor”. Eu acrescentaria “é um sofredor”. A alma do poeta sofre com mais intensidade as dores da vida, mas não consegue encontrar um alivio eterno. Dessa forma, seguem “fingindo e sentindo” querendo encontrar na própria arte o descanso que sua alma anseia.
Depois de seis anos lutando com um câncer, Dominguinhos chegou a sua ultima estação. O triste é que, a julgar pelas suas ultimas entrevistas, o “descanso feliz” nunca chegou. Viveu cansado e morreu cansado, pois não deu ouvido Àquele que diz: “ Vinde a mim todos os cansados... e achareis descansos para as vossas almas”.
Agora foi Dominguinhos, amanhã seremos nós. Na estrada da vida somos todos viajantes que em breve chegarão a ultima estação. Felizes são os que desembarcam para encontrar Jesus, seguindo com Ele para eternidade. Esse é o melhor destino.
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