Há muito tempo que existe por ai o falso evangelho chamado de “teologia da prosperidade” ou “teologia da fé”, sempre denunciada por aqueles que verdadeiramente pregam o evangelho da verdade. No entanto, hoje não se trata apenas de falsos mestres e falsos pregadores do evangelho, mas de enriquecimento ilícito de pastores e líderes cristãos que deveriam ser exemplo de vida modesta e equilibrada para igreja e para o mundo.
O pastor deve viver uma vida simples. Essa simplicidade deve se estender a todas as áreas de sua vida, pois Jesus também viveu de forma simples. Todos os apóstolos e profetas eram homens simples. Os poucos homens ricos que aparecem nas Escrituras Sagradas eram homens sem vocação sacerdotal, foram patriarcas, foram reis, também usados por Deus. Mas a grande maioria dos homens dedicados ao que podemos chamar de ―ministério de tempo integral era de homens simples. O estilo de vida empresarial que domina o pensamento das igrejas dos nossos dias praticamente ridicularizou a simplicidade do ministério cristão, fazendo com que muitos pastores busquem uma vida mais sofisticada. Não creio que seja o propósito de Deus que o pastor de uma igreja local seja rico e que viva um estilo de vida muito superior ao da maioria dos membros da sua igreja e com salário exorbitante.
Em certa ocasião, um escriba queria seguir a Jesus e foi informado por ele que: ― “As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”(Mt 8.20). Nos tempo de Jesus, os escribas ou doutores da lei eram homens de grande importância. No Sinédrio, serviam como juristas e intérpretes da Lei Mosaica no que diz respeito aos assuntos governamentais, administrativos e jurídicos. Na sinagoga, eram os intérpretes das Escrituras Sagradas ajudando o povo a fazer aplicações práticas dos ensinos da lei para cotidiano. Eles também eram os professores que ensinavam o povo a ler e escrever. Embora não fizessem parte da alta sociedade, gozavam de privilégios superiores aos da maioria do povo. A resposta de Jesus a esse escriba é, portanto, um esclarecimento de que a liderança espiritual proposta por Jesus e vivenciada por seus apóstolos era muito simples se comparada com o estilo de vida que ele estava acostumado. A história nos deixa a indicação de que esse escriba desistiu de seus planos após as palavras de Jesus. Será que seguiríamos a Cristo, como ministros do seu santo evangelho, se nós ouvíssemos dele tais palavras? Mas elas ainda ressoam em alto e bom tom para aqueles que se dizem chamados para o pastorado.
É certo que hoje a nossa sociedade abriu oportunidades maiores para aqueles que chamamos bi-vocacionais, ou seja, pessoas que exercem o mistério e uma profissão secular. Trata-se, muitas vezes, de homens zelosos pela causa de Deus e que, quando assumiram o ministério, já eram ricos ou tinham uma vida muito boa. Nesse caso, acredito que o um princípio cristão histórico referente à economia deve ser observado. João Wesley ensinou aos homens dos seus dias: ― “Trabalhe o mais duro que você pode, economize o tanto quanto você pode; doe o tanto quanto você pode” [1]. Tendo em vista que todo trabalho honesto e decente é sagrado para Deus, não vejo razão para que um pastor bi-vocacional deixe de ganhar dinheiro. Neste caso, o princípio de ― “trabalhar o mais duro que você pode”, certamente continuará a trazer benefícios financeiros. O que fazer com esse benefício financeiro? A segunda orientação de Wesley é ― “economize o tanto quanto você pode”. Nos nossos dias, o desperdício de recursos, por meio do consumismo desenfreado, é ofensa àqueles que nada têm e que muitas vezes lutam para ter o que comer. Não seria ético para esses pastores bi-vocacionais viverem em um mundo de fartura e consumismo e, ao mesmo tempo, subir nos púlpitos para ministrar a palavra de Deus. O que fazer então com o que foi economizado? Wesley disse: ― “Doe o tanto quanto você pode”.
Acredito que a ética do pastorado deve motivar todos quantos possuem além do que precisam para uma vida decente, para contribuir para o auxílio do necessitado e para o avanço da causa de Deus. Esses três princípios, na realidade, valem para todos quantos querem glorificar a Deus com suas vidas. Se de alguma forma temos além do que precisamos, devemos doar.
Agora, simplesmente, é inaceitável que pastores venham a enriquecer à custa da igreja e do ministério. Alguns justificam suas contas bancárias substancialmente abençoadas ao fato de serem dignos de receber seus salários equivalentes aos de grandes industriais, diretores executivos (CEO) de grandes incorporações, etc. Quando a Bíblia diz: ― “[...] Digno é o trabalhador do seu salário […]”(Lc 10.7), a ideia não é comparar o salário do pastor com a de outros trabalhadores em outros setores da sociedade. O texto soa melhor como: digno é o trabalhador do seu alimento (Mt 10:10). A ideia original do texto é aquela do suficiente para a provisão decente da vida. Viver uma vida pastoral lucrativa financeiramente é diferente do ideal de Deus para o ministério e portanto é um enriquecimento ilícito para com a ética ministerial.
Estes pastores devem ser denunciados por suas posturas, o rebanho de Deus deve ser alertado para se afastarem deles, pois não se assemelham em nada com o Jesus de Nazaré. Cuidado, pois estes, são cuidadosos no uso das palavras e enganam a muitos. O Ap. Paulo nos alertou através de sua segunda carta a Timóteo que haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando- se às fábulas (2 ™ 4:3-5).
A estes pastores enriquecidos ilícitamente o Senhor os diz pela sua palavra: “[…] Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas? Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. […] Assim diz o SENHOR Deus: Eis que eu estou contra os pastores e deles demandarei as minhas ovelhas; porei termo no seu pastoreio, e não se apascentarão mais a si mesmos; livrarei as minhas ovelhas da sua boca, para que já não lhes sirvam de pasto.” (Ez 34:2-3,10).
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