Cadê a tal da igreja, que prega a felicidade, a riqueza, a conversão a um Cristo que tudo tem e tudo quer dar? Quem mora em São Paulo sabe do frio e da garoa incessante (além da chuva propriamente dita) que não dá trégua desde sexta-feira. Ontem foi um dia muito frio e hoje também, e enquanto nós, a “igreja”, nos aquecemos tomando um belo café ou chocolate quente, além daqueeeela refeição que, afinal, merecemos, dezenas de crianças (para não falar dos adultos) estão nesse exato momento passando fome e frio. Afinal, a culpa não é da igreja, é dessa cambada que não tem onde cair morto e ainda fica botando criança para sofrer no mundo. Mas tudo bem, como “igreja”, vamos orar por eles.
HIPÓCRITAS! MONSTROS! ASSASSINOS SILENCIOSOS! É isso que, como “igreja”, somos, pois a essa hora estamos louvando a Deus alegres e contentes nos cultos de terça-feira, não tendo olhos, ouvidos ou coração para nos colocar no lugar daqueles muitos que estão sofrendo nesse momento, não só os desalojados (que embora sofrendo ainda têm que ter cabeça para ir trabalhar no dia seguinte, senão podem perder o emprego e a situação ficar ainda pior, se é que isso é possível), mas todos os que há tempos estão nas ruas, bueiros, favelas, cortiços, abandonados pelo mundo. A igreja fala de salvação, mas sua salvação é apenas para os ricos e remediados. A igreja não vai evangelizar nas ruas, vai evangelizar nos lares, nos “cultos domésticos”, onde convidamos aqueles que têm uma vida igual ou parecida com a nossa, claro. Igreja desse jeito não precisa existir: melhor oficializar o “clube”, fechar a “igreja” e deixar de envergonhar o Evangelho.
Com sua hipocrisia e luta por seu próprio benefício, a “igreja” brasileira não salva, destrói vidas: torna ainda mais insensíveis os que já têm alguma propensão para o egoísmo, ao prometer-lhe todas as bênçãos de Deus em detrimento dos demais, e mata as esperanças daqueles que, com humildade, tentam se achegar a ela, mas são impedidos por conta de sua classe social. Dizer que a “igreja” não faz acepção de pessoas é ser ou muito inocente ou muito mentiroso.
A essa hora, essas famílias devem estar passando por mais uma tragédia. Se não bastasse seus poucos objetos jogados na rua, a chuva, o frio, a fome, a falta de um lugar para sequer descansar, ainda há a questão de estar chegando ao fim o prazo de 24 horas que a PM lhes deu para deixarem efetivamente o terreno. Mas isso não é um problema nosso, é?
Jesus só não volta hoje porque provavelmente não teria igreja nenhuma para levar consigo. Que possamos nos voltar a Ele enquanto houver tempo.
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