Mais uma vez, repete-se a tristeza da "Marcha pra Jesus". Mais uma vez "aparecem pessoas completamente idiotizadas, num oba-oba frenético e ridículo. Depois, assisti a outros vídeos de pastores completamente alucinados em suas pregações, berrando e em tons histéricos tentando levar seu público a uma emocionalidade descontrolada. Fiquei triste ao pensar sobre a imagem que esses eventos podem trazer sobre a igreja. Sendo franco com o que senti, fiquei envergonhado. Será esta a verdade sobre a igreja: uma igreja sem cérebro, cheia de fanfarronices e presepadas, com líderes histéricos e delirantes? A julgar pelo que vemos por aí, podemos pensar que a igreja evangélica é uma instituição que marcha para o nada, ou pior, marcha para um despenhadeiro onde sua dignidade está despencando em rios de idiotice. Mas …
… Jesus não morreu para construir uma igreja idiota. Se está idiota, ou não é sua igreja ou, em sendo, ainda tem muito a crescer. Não me tenha por arrogante ou por um juiz algoz mas, pelo pouco que sei, a igreja é de outra natureza, sim: sóbria, amorosa, adorativa e servidora ou misericordiosa.
Sabe de uma coisa? Qualquer um de nós pode ficar idiotizado. Não me refiro a uma idiotia como a do Príncipe Michkin, de Dostoiévski, que tinha por trás de sua excessiva bondade uma perspicácia capaz de desvendar a verdade no íntimo dos outros – não! Refiro-me a uma idiotia vazia, estéril, vil.
Os caminhos para esta idiotice? Ei-los: aceitar o que nos falam sem consciência crítica ou analítica; seguir tradições e rituais sem discernimento ou bom senso; nos deixarmos levar pela maioria, por falta de conteúdo ou por uma auto-imagem fraca, doente que nos impede de sermos autênticos; sacralizar pessoas e coisas, como se suas palavras e atos fossem inquestionáveis – quantos têm doado fortunas para ministérios e pastores, desconsiderando todas as acusações, ou até mesmo condenações aplicadas a estes, por lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e estelionato? Idiotizamo-nos quando nossas paixões arrastam nossas emoções e, por fim, quando não temos uma base sólida para fundamentar nossos pensamentos e atos. Fico muito assustado quando vejo um idiotismo coletivo causado por líderes que reúnem alguns dos itens citados e que arrastam multidões consigo.
Mas, ora esta: um dos objetivos da igreja não é, justamente, o de fornecer bases bíblicas sólidas para a vida de seus membros? Deus mesmo não quer ser amado com todo o nosso entendimento? O idiota não sabe amar a Deus e nem servi-lo, pois não pode discernir Sua vontade. Não basta coração e força: Deus quer seres pensantes, analíticos, sensatos, transformadores. Não estaria nesta idéia o conceito de protestantismo, gente que protesta por causas justas? Historicamente, não tem sido a fé cristã uma das grandes forças revolucionárias e transformadoras da sociedade e do mundo?
O caminho para fugirmos da idiotia começa em conhecermos a Palavra de Deus e, principalmente, o Deus que nela fala. Mas precisamos, com urgência, nos abrir aos saberes que lançam luzes sobre todos nós e sobre a realidade que nos cerca. E, a partir destas bases, olhar todo o mundo a nossa volta com visão crítica, discernente, livre, transformadora. Que o Senhor nos livre, a nós, sua Igreja, de todo idiotismo, de toda estultice, para que existamos para o fim para o qual fomos criados: servir e amar a Deus de todo o coração, de todo entendimento e com todas as forças, e para amar e servir ao próximo. Nada poderia nos amadurecer mais nesta vida.
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