A tradição cultural de nosso país é, além de múltipla, mística em sua essência, sobretudo pelo fato de que a população brasileira é constituída por etnias diversas. Num mesmo “caldeirão” se encontram misturados europeus, africanos, aborígines, asiáticos, etc. Como sabemos, cada uma dessas etnias aqui presentes traz consigo, de maneira intrínseca, seus rituais, suas crenças, sua religiosidade, suas formas de se relacionar com o sobrenatural.
Dessa maneira facilmente percebemos dentre a vasta herança cultural do país, os seguintes elementos formando o pano de fundo da religião de nosso povo:
1) rudimentos da pajelança indígena;2) superstições provenientes do catolicismo romano, trazido para a Ilha de Vera Cruz pelos colonizadores europeus;
3) uma forte corrente kardecista (também trazida pelos europeus);
4) o extremo misticismo dos cultos afro;
5) a busca da paz interior embutida nos ensinamentos das seitas orientais; e
6) o protestantismo e sua conclamação pelo retorno às Escrituras.
Meu objetivo aqui é focar os protestantes, "segmento" do qual faço parte. Aqueles que genuinamente professam tal fé, obrigatoriamente devem basear suas crenças unicamente na Bíblia Sagrada. É mister que seja assim com todas as igrejas que se dizem herdeiras da Reforma. Estas têm por obrigação prezar pela pureza doutrinária, pelos cinco “solas” (Sola Gratia, Sola Fide, Sola Scriptura, Solus Christus, Soli Deo Gloria).
No entanto, com imensa tristeza e pesar, chegamos à desoladora constatação de que não é isso que temos presenciado. Pelo contrário: em muitas igrejas ditas “evangélicas”, dá-nos a impressão que houve apenas a mudança da placa. Parece-nos que hoje há alguns centros destinados aos cultos afro que adotaram o rótulo de “igreja”, tamanho é o misticismo sob o qual o povo se encontra cativo. Fala-se (superficialmente) de Jesus, porém ainda se afirma ser necessário passar pelo sal grosso para fins de descarrego, é preciso adquirir uma série de patuás “gospel”, é preciso colocar copo d’água sobre o rádio ou televisão, é necessária a utilização de um pouquinho da terra trazida de Israel e alguns mililitros de água do Rio Jordão, os pedidos de oração devem ser queimados no Monte Sinai. Do contrário, apregoa-se nas entrelinhas, o fiel não será abençoado. Com isso, o sacrifício de Cristo é chutado para escanteio, relegado ao segundo plano. E o povo, apesar de supostamente estar numa igreja, continua preso a toda sorte de rituais místicos na busca da bênção.
Tanto critica-se a mariolatria nos arraiais evangélicos, mas paradoxalmente, muitos se revelam mais praticantes da idolatria que os próprios católicos. Em nosso meio, se observa um apego exacerbado a determinados objetos de culto, a pregadores, a cantores, a "hinos", a congressos. Alguns há que julgam necessário viajar centenas de quilômetros para participar de determinado congresso de missões e receber uma suposta "carga de poder". Ignoram que Deus, sendo Onipresente, abençoa-nos e capacita-nos onde quer que estejamos. Até mesmo e, porque não dizer, principalmente no silêncio de nosso quarto, durante nossa meditação diária. Não entremos ainda no mérito daqueles que, à semelhança de algumas seitas de origem oriental, afirmam que, em alguns casos, é necessária uma suposta "cura interior", técnica híbrida proveniente de um amálgama de textos bíblicos mal-interpretados, psicologia e hipnose, resultando mais em ocultismo que em cristianismo, além de uma "confissão positiva" para a resolução dos problemas de quaisquer ordens.
Ou seja, a “igreja evangélica” brasileira conquanto se revele "evangélica", se encontra atolada no sincretismo religioso. Numa perigosa mistura que distancia cada vez mais o homem dos preceitos bíblicos. Essa igreja precisa verdadeiramente ter um encontro com Cristo, Aquele que já pagou o preço de nossa redenção. Aquele que bradou há quase dois mil anos atrás na cruz do Calvário: “Está consumado!”, expressão cujo significado pleno é desconhecido por muitos, inclusive evangélicos.
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