América Latina adora governos controladores e ditatoriais. Nós gostamos mesmo é de ser dominados com mão forte e pisoteados por botas sujas de lama, de fazer testes de sobrevivência e de viver com salários paupérrimos. Por fora, desejamos a liberdade mas lá no fundo, nas profundezas do nosso coração, nós adoramos aos Chávez, Velascos, Fujimoris, Pinochets e Ortegas. Por isso que a versão do cristianismo que prioriza o controle prosperou em nossos países. O pentecostalismo, cheio de pastores estritos e exigências de submissão injustificáveis que o povo aceita de boa vontade, é um perfeito exemplo, quase ideal – apesar da “igualdade” que a democratização dos dons proporcionou. Seu crescimento continuará, porque sua proposta combina com o espírito latino, carente da figura paterna e abundante de deuses débeis e servis.
Enquanto as coisas vão mudando, outros apressam o processo, em aberta oposição ao status quo. É óbvio que a liderança reage, identificando seus oponentes como agentes de satanás. Eles tratam de proteger as estruturas eclesiásticas, proibindo toda crítica, acusando os dissidentes de viverem uma espiritualidade rasa, gente rebelde cujas palavras devem ser ignoradas. Nem quero pensar o que aconteceria se ainda estivessem vigentes os métodos de tortura da época da “santa” inquisição.
Rebeldia e insurreição são, no atual sistema eclesiástico, obscenidades anti-valores dignos de pessoas ímpias, ou de ateus que nada sabem acerca de Deus. Porém, o grande paradoxo é que, caso estas atitudes não tivessem existido na história da igreja, nós ainda estaríamos pagando por indulgências. Se não houvesse rebeldia e insurreição, Lutero jamais teria publicado suas 95 teses, Savonarola continuaria silencioso em seu mosteiro, passivo diante da degeneração dos Borgia, e Calvino nunca teria elaborado sua teologia. Sem rebeldia, nós – evangélicos – sequer existiríamos. Seríamos católicos, ou qualquer outra seita pseudo-cristã, que só em pensar dá calafrios. Se não houvesse revolta e enfrentamento contra o institucionalismo religioso, não existiria uma igreja evangélica. Somos, portanto, filhos da insurreição, e gostemos ou não, isso é o que nos faz diferentes dos outros grupos cristãos. Essa atitude de repaginar o cristianismo deve marcar o nosso caminhar. Logo, rebeldia não pode mais ser considerada uma palavra má.
Acordem irmãos!
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