Amo música! Isso todo mundo sabe. Gosto demais de MPB... Chico, Caetano, Oswaldo Montenegro, Ivan Lins, Djavan... isso quase todos sabem. Gosto demais também da boa música evangélica... João Alexandre, Guilherme Kerr, Sérgio Pimenta (ai, que saudade!), Arlindo Lima, Jorge Camargo... isso muitos sabem. Gosto muito de cânticos espirituais que me enlevam, que têm boa letra (e são muitos... só não são tão cantados)... isso também muitos sabem. Gosto de momentos de louvor carismáticos, envolventes, gosto de levantar as mãos, “dançar”, fechar os olhos, abrir os olhos... isso alguns sabem. Mas ODEIO que me mandem fazer essas coisas nesses momentos de louvor... isso vocês vão saber agora!! hehehe
Muitas de nossas igrejas não têm ministros de louvor, têm animadores de auditório. “Levante suas mãos”, “feche seus olhos”, “diga para o irmão que está ao seu lado: Jesus te ama!”, “faça isso”, “faça aquilo”... e lá ficam eles... os levitas... mandando e desmandando no auditório, achando que isso é ministrar o louvor... Muitas de nossas reuniões me lembram um antigo comercial de cerveja, em que o animador falava: “agora, só os homens... agora, só as mulheres... agora, só os baixinhos...”
O louvor, ainda que manifestação do coletivo quando na reunião dos salvos, é algo extremamente pessoal. Cada pessoa tem seu jeito, seu “estilo”, mas nós queremos a uniformidade de gestos, atos e palavras... verdadeiros robôs levíticos, porque na verdade desconhecemos a profundidade do louvor e da sua força naquele que louva, seja de que jeito for. Ora, eu mesmo, que gosto de um louvor mais “carismático”, às vezes quero um momento mais meu, mais tranqüilo...e ainda que o cântico seja agitado, nem sempre quero bater palmas, ou levantar as mãos... isso é de cada pessoa... e não devemos julgar quem levanta ou quem não levanta as mãos, porque isso não foi, não é e nunca será parâmetro para a espiritualidade pessoal.
Falta aos “levitas” uma percepção maior daquilo que realmente estão fazendo. Muitas vezes nos sentimos como num assalto: “Mãos ao alto!!” ... e ai de você se não levantar as mãos... o irmãozinho do lado já olha de cara feia: “ih! Esse cara deve estar em pecado”... o “levita” despeja umas gracinhas: “tem gente que não ta levantando a mão... ta cansado... ta derrotado...” francamente...
Digo que é um assalto, pois nos rouba a individualidade do louvor, nos rouba a comunhão íntima pessoal que se desenvolve nesse momento mágico do culto... o momento em que nos rendemos inteiramente na presença daquele que é transcendente, mas imanente... eterno, mas se faz presente no tempo e no espaço... essencialmente Santo, mas se deixa adorar por indignos pecadores...
Ainda há aqueles “benditos” cânticos que pedem uma “resposta” da “platéia”. O “levita” puxa a música: “Aquele que está feliz diga amém!!” e a platéia ensandecida grita “Améééém!” e o indivíduo que naquele dia saiu de casa triste porque perdeu seu emprego, porque descobriu uma doença, porque viu ruir seu casamento, porque descobriu que seu melhor amigo lhe traiu, enfim por qualquer motivo que nos faça tristes (afinal ainda somos humanos) se vê num dilema terrível: ou ele grita “amééém!” e mente diante daquele a quem se deve adorar não só em espírito, mas em VERDADE, ou não grita nada e sai de lá com dois problemas, o que ele já trazia de casa e agora a terrível sensação de que é o único naquele lugar que não está “ligado” com o Senhor. Como se esquecêssemos que o próprio Mestre chegou a declarar em um momento que sua alma estava “angustiada até a morte”, e garanto que nesse momento ele (Jesus) não responderia “amééém!” aos convites loucos e irresponsáveis dos “levitas” de hoje.
Creio que o louvor deve ser visto com mais cuidado pelos pastores e líderes. Já tenho dito isto em vários textos... nossas igrejas caminham por mares perigosos na área musical... heresias, desvios bíblicos, sutilmente vão se alastrando sem que percebamos, e minha preocupação é que quando venhamos a perceber essas coisas seja tarde demais, pois essa cultura já está enraizada em muita gente... e a cada dia novas aberrações surgem, como hoje podemos perceber em algumas igrejas... em algumas reuniões o momento máximo do louvor é quando se toca o shophar, instrumento feito com um chifre de carneiro, que segundo os seus “usuários” tem poderes nas regiões celestiais... mas isso é assunto para um outro artigo.
Por enquanto, vou ficando por aqui, só querendo ter liberdade para adorar, respeitando e sendo respeitado, certo de que não é pelo gesto, nem pelo jeito que meu louvor será aceito ou não, mas se ele parte de um coração limpo, de lábios que confessam o senhorio de Cristo, de uma vida que nasceu de novo e que adora e vive em novidade de vida, e que não tenha mais que ouvir (em outras palavras, é claro): “Mãos ao alto! Isto é um assalto!"
Adore ao Senhor!
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