Fico me lembrando dos circos da época de criança nos quais o animador de auditório ou algum palhaço dirigia-se ao público perguntando a célebre frase: “Hoje tem espetáculo?” ao que o coro respondia: “Tem sim senhor”.
Se transmitirmos nossa imaginação para os cenários de muitas de nossas instituições religiosas, talvez ouçamos a mesma pergunta sendo a nós dirigida por um animador, ops, pastor ou ministro de louvor.
Quantos de nós não estamos acostumados a proclamar aos nossos irmãos sentados ao lado (é preciso sempre interagir não é mesmo? Nada de ficar quietinho – isso é coisa de “crente iceberg” diz um famoso pregador e conferencista internacional)… enfim, precisamos proclamar ao nosso irmão do lado que o culto, ou seria espetáculo? Será sobrenatural, se prepare meu irmão(a), depois dessa noite sua vida NUNCA mais será a mesma, após a oração forte de nossos ungidos TODA maldição estará quebrada (esqueceram de contar isso para Jesus que se esvaziou na cruz, carregando TODA a nossa DOR e MALDIÇÃO)
Prossigamos com o espetáculo, ops, perdoe-me novamente, culto.
Após a interação com os irmãos e algumas repetições do jargão evangeliquês, chega a hora da coreografia (todos juntos, por favor! E se você não faz direito – ai, ai, ai irmão; é sinal que não está sendo frequente em nossos cultos).
Assim se passa o tempo do “louvor” e agora que a platéia, ops novamente, as ovelhas estão bem receptivas, é hora da palavra ou dos testemunhos.
Os testemunhos são um caso à parte no show gospel, ops, perdoe-me, não sei o que está acontecendo comigo, fico confusa às vezes. São todos autocentrados, antropocêntricos, valorizam a mentalidade de gueto, somos os melhores, os intocáveis, outro dia ouvi um tristemunho, ops, testemunho, em que a senhora estava toda feliz por ter ido trabalhar numa empresa onde só trabalham crentes.
Sugiro que alguns desses irmãos ungidos e separados que não querem se contaminar com as coisas deste mundo planejem um protótipo de “foguete de Noé” e escolham algum planeta desabitado para lá dominarem como sacerdócio real e nação santa. Teremos a gospelândia pura e imaculada.
Após os testemunhos, você poderá ouvir uma ameaçadora palavra sobre dízimos e ofertas e se sentirá muitas vezes num assalto à bíblia armada com versículos vetero-testamentários obviamente.
Depois de lidas todas as maldições e proclamadas todas as bençãos aos fiéis não roubadores de Deus, vem o show-man, ops, pastor, com a GRANDE REVELAÇÃO da noite.
Logicamente a grande revelação não pertence ao NOVO TESTAMENTO, é envolta em rituais, sacrifícios, correntes, propósitos, TUDO para garantir que “determinando com fé” sua benção será garantida (caso não venha, não prometemos seu R$ de volta, a incredulidade do seu coração é que lhe roubou o agir do Senhor – penso no pobre Jesus na cruz novamente).
E assim rola a palestra motivacional, quer dizer, a pregação, cheia de textos fora de seus contextos, regada a muitos “aleluias” e “glórias à Deus”, algo que deixa consumidores, ops, ouvintes arrebatados e verdadeiros discípulos nauseados.
O ápice de tudo é o “apelo” ou seria APELAÇÃO? Emocionalismo barato, promessas de soluções imediatistas, tem horas que penso que vão esfregar a bíblia e de lá sairá o gênio da lâmpada mágica.
Venha e receba: TUDO! TODA A SOLUÇÃO! NESTA NOITE! COM ESTA CHAVE DA VITÓRIA! COM ESTA ROSA BRANCA! COM ESTE LENÇO UNGIDO!
Paro por aqui, preciso me levantar… o espetáculo é demais para mim!!!!
Me perdoem a acidez, mas estou farta desse pseudo-evangelho sem cruz, sem Cristo e sem Graça.
Cansei da barganha, cansei do entretenimento, cansei das campanhas, cansei de só ouvir velho testamento.
Faço um apelo aos irmãos sinceramente enganados pelo espetáculo gospel: leiam a bíblia, estudem a palavra, tenham intimidade com o ABA.
Finalizo com um pensamento do incrível John Stott:
“Quando vou à igreja, tiro o chapéu, não a cabeça”.
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