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Evangelismo com responsabilidade
Ontem ouvi um testemunho de uma pessoa que se "converteu" há pouco tempo. Bem, sabendo o que viria nos próximos minutos, confesso que tive uma vontade enorme de ir embora, mas como sou brasileiro e não desisto nunca, me mantive sentado,certo de que poderia ser diferente, que eu iria ouvir desta vez uma legítima conversão. Bem, no final me dei mal.
Todas as vezes que escuto algo do gênero, novamente me faço perguntas sobre a maneira como a evangelização é feita hoje ( se é que podemos chamar de evangelização ). Aliás, evangelização no nosso modelo significa convidar as pessoas a ir aos cultos, e depois que ela levantar a sua mão e aceitar a Jesus, carimbamos o seu passaporte pro céu. E ai?
Há uma idéia disseminada no meio da igreja que nosso papel é salvar almas, e isso faz com que com meia dúzia de conceitos superficiais sobre Deus, e a promessa que Ele vai fazer sua vida melhor, te dar dinheiro, curar uma enfermidade, trazer a pessoa amada, salvar casamentos seja chamado de Evangelização. O resultado final é uma “pseudoconversão” superficial, que tem como resultado pessoas frustradas e decepcionadas com o não cumprimento das promessas feitas, queixando-se das injustiças de Deus, o que leva muitas pessoas a se afastarem da igreja ( tema que já foi matéria da revista Eclesia). Quando o afastamento não ocorre temos um segundo grupo de pessoas que ficarão tão obstinadas a esperar para alcançar tais promessas que nunca sairão das periferias do conhecimento sobre Deus. Poucas dessas pessoas irão se desenvolver e absorver o cerne do Evangelho e terão realmente as suas vidas transformadas.
Entendo hoje que nosso papel como igreja não é apenas salvar almas, mas salvar vidas. Temos que ter como igreja a capacidade de resgatar as pessoas e restaurar a sua dignidade, sua vontade de viver e de se humanizar. Nosso Evangelismo não deve correr em cima de promessas vazia sobre Deus, mas na verdadeira promessa que Ele nos ama e estará conosco em todos os momentos das nossas vidas, mesmo nas piores situações que encontraremos nela ( “... ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque TU estás comigo...” ). Devemos deixar de lado nossa obstinação por segurança, no qual transformamos nossos cultos em Shows da fé, e nos derramarmos com tudo o que somos no relacionamento e conhecimento de Deus, de maneira tal que possamos nos humanizar e ser como Jesus amando aquele que não amamos, trazendo justiça num mundo minado que está tomado por injustiças. Nossa conversão não se dá no momento em que vamos rigorosamente aos domingos a igreja, mas no momento que o Evangelho se torna “boas novas” em nossas vidas, de maneira tal que é impossível, após absorver as verdades do Reino e seus valores, que eu seja a mesma pessoa. Sou tocado pelo Evangelho quando minha vida passa ser um instrumento de trazer o bem. Tenho que ter a convicção de que o Evangelho não me dá nenhuma garantia que a minha vida será melhor que a das demais pessoas, mas que ele me dá a certeza de que passe o que passar estarei para sempre com Deus.
O que temos hoje na igreja? Na maioria, pessoas que não sabem qual é seu papel neste mundo, que consideram cristianismo o pragmatismo religioso pregado todos os dias nos nossos programas televisivos. Por isso, coisas como a teologia da prosperidade superabundam nos corredores evangélicos. Temos muitos evangélicos, mas poucos que podem ser chamados cristãos. Devemos repensar nosso conceito de Evangelismo, porque com foco em quantidade, sem dar o devido cuidado as pessoas, estaremos apenas sendo superficiais em nossa missão como igreja.
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