(1 Samuel 24.3-12) “Não toqueis no ungido do Senhor”. Essa é a resposta de nove entre dez crentes que crêem em tudo o que lhe pregam sem serem bereianos, quando confrontados com críticas ou acusações contra pastores, apóstolos (?) e demais líderes eclesiásticos. Não importa se as provas do crime são claras, para esses crentes não nos cabe julgar nem analisar o que a liderança da igreja faz de errado: cabe aos crentes, segundo essa falsa doutrina, agir como Davi em relação à Saul: simplesmente não fazer nada, e esperar que Deus resolva o negócio e faça a justiça. E enquanto nada se faz, esses líderes criminosos continuam roubando, matando e destruindo o rebanho de crentes em suas mãos, e trazendo escândalo para o Evangelho, afastando de vez os não-crentes do afã de conhecerem a Verdade de Cristo.
Mas enfim, Davi realmente disse em várias passagens de 1 Samuel que não se deve tocar no ungido do Senhor. E aí?
Em primeiro lugar, temos que deixar bem claro sobre qual ungido Davi se referia. Ele se referia a Saul, atual rei de Israel, porém já destronado por Deus, que havia ungido Davi em seu lugar. Portanto, a primeira coisa que temos que ter em mente é que não se tratava de qualquer ungido, mas de Saul.
Em segundo lugar, temos que entender essa unção que Saul recebeu. Em 1 Samuel 8, lemos que o povo queria um rei no lugar dos antigos juízes que governavam Israel. Deus não tinha esse desejo, pois o querer um rei era um desejo do povo de que Deus já não reinasse mais sobre eles. Porém Deus resolveu satisfazer Israel, e escolheu Saul como rei. (1 Samuel 10.1-9 )
E Saul ficou cheio do Espírito Santo, e em 1 Samuel 11.15 finalmente Saul é proclamado rei. Porém a unção que Saul recebeu era apenas para reinar, não para ser sacerdote ou líder espiritual do povo. Essa função era para algumas pessoas específicas, como o profeta Samuel. Não cabia a Saul as funções sacerdotais, sendo esse um dos pecados que o fez perder o reinado em Israel. (1 Samuel 13.5-14)
O outro pecado de Saul ocorreu em 1 Samuel 15, quando desobedeceu à ordem do Senhor ao não destruir o melhor do rebanho dos amalequitas, com a desculpa de que usaria o rebanho como sacrifício, onde Samuel disse que é melhor obedecer do que sacrificar.
Assim, em 1 Samel 16 lemos o Espírito do Senhor deixando Saul e passando a habitar Davi, o novo rei ungido. (1 Samuel 16.11-14.)
Ou seja, Saul deixou de ter o Espírito Santo, mas continuou sendo rei de Israel por vários anos. Nesses anos, o Espírito Santo estava com o novo ungido, Davi, que porém ainda não havia sido reconhecido rei pelo povo. Dessa forma, Davi servia ao rei Saul e foi perseguido por seus exércitos, e aí chegamos à passagem que abriu esse artigo, quando Davi teve real chance de aniquilar Saul, mas não o fez por considerá-lo ungido do Senhor.
Realmente, o que impediu Davi de se levantar contra Saul não foi o poder do Espírito Santo no antigo rei, pois este já o tinha deixado e Saul não passava de um endemoniado. Porém, mesmo endemoniado, Saul continuava sendo rei, e em razão desse título que Davi o poupou. Uma vez ungido rei, sempre rei. Deus tirou Saul do reinado, porém isso só se concretizou com sua morte, não havendo rebelião para que isso acontecesse e Davi tomasse o poder em seu lugar. A unção de rei permaneceu com Saul por toda a sua vida, mas o Espírito de Deus não.
Entendido tudo isso, vamos agora analisar a doutrina do “não toqueis no ungido” nos dias de hoje. Por que ela não é válida?
Entendido tudo isso, vamos agora analisar a doutrina do “não toqueis no ungido” nos dias de hoje. Por que ela não é válida?
Como visto, a unção a qual Davi se referia dizia respeito ao direito de reinar sobre Israel, não sobre possuir funções eclesiásticas. As funções de governo do Estado e eclesiásticas eram bem divididas naquele tempo, embora Israel fosse um Estado teocrático. Portanto, a não ser que algum líder de igreja seja também rei nomeado por Deus (olha eu dando idéia para novos títulos, que Deus me perdoe) em sua localidade, nenhum líder religioso atual se enquadra nesse quesito.
Sobre como devemos agir em relação ao líderes religiosos e qualquer cristão, a Bíblia é bastante clara:
“E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim.” Atos 17.10-11
“Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais. Porque, que tenho eu em julgar também os que estão de fora? Não julgais vós os que estão dentro? Mas Deus julga os que estão de fora. Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo.” - 1 Coríntios 5.9-13
Chega desse engano do “não toqueis no ungido do Senhor”, engano esse que tem transformado a igreja em covil de salteadores. O rebanho tem que aprender a buscar na Palavra se o que seus líderes pregam é verdade ou não, tem que aprender a raciocionar, a analisar, a meditar dia e noite na Palavra, mas é isso mesmo que os lobos em pele de cordeiro não querem que aconteça, e por isso acorrentam suas ovelhas em falsas doutrinas que visam cegar e conformar o rebanho à sua própria vontade, não à de Deus. Deus nos enviou Cristo para que fôssemos libertos, mas onde há liberdade se nem ao menos podemos criticar um líder eclesiástico por seus falsos ensinos ou sua má conduta, com a desculpa que de o fulano é “ungido”? O Apóstolo (de verdade) Paulo era bem ungido, disso não há dúvidas, mas nem por isso ficou chateado ao ser confrontado pelo povo de Beréia em seus ensinamentos. Por que os apóstolos (?) e líderes dos dias de hoje ficam melindrados, e até amedrontam suas ovelhas com a promessa de inferno para o “pecado de rebeldia” que seria se levantar contra um “ungido” do Senhor? E por que as ovelhas, que também têm unção (já que recebem o Espírito Santo desde sua conversão), ao contrário dos líderes religiosos, podem e são fortemente exortadas (se seu dízimo for baixo, claro) quando encontradas em erro?
Isso é estelionato gospel, e dos bons. Graças à essa mentira (a própósito, quem é o pai da mentira mesmo?) vemos igrejas destruídas por pertencerem (a palavra é essa mesma) a líderes criminosos, que adulteram as Escrituras a seu bel-prazer e agem como se a justiça de Deus e dos homens não valesse para eles. Enquanto isso, às ovelhas cabe apenas se conformar, “Deus quer assim”, “quem faz a justiça é Ele”, “só nos cabe orar”.
Povo de Deus, vamos abrir os olhos!!! Temos que orar, a justiça é de Deus, mas Ele usa homens e mulheres para que Sua justiça seja feita nessa terra!!! Se Lutero pensasse assim, ainda hoje estaríamos comprando indulgências (se bem que essa prática perniciosa continua ocorrendo nos dias de hoje, na forma de lenços suados, rosa ungida, sabonete ungido, etc)!!! Como povo de Deus, temos que ser carvalhos de justiça principalmente em nosso meio, tirando os lobos que querem devorar nossas ovelhas!!! Se não o fizermos, não sobrará ovelha nenhuma no final da história, pois todas serão enganadas…
O “não toqueis no ungido do Senhor” é uma desculpa muito da mal feita para líderes que têm algo a esconder. Quando um líder pregar isso para você, fique ainda mais atento, pois quem está na luz não tem medo de ser julgado, afinal nada se encontrará que o desabone; ao contrário, quem está em trevas não quer que o candeeiro seja colocado em cima da mesa e ilumine o ambiente, pois isso trará à luz toda a podridão escondida em nome de Deus.
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