Nas minhas reflexões por mais de uma vez tive vontade de abandonar tudo o que se refere aos evangélicos. Não vou ser taxativo e comentar sobre todos os encandalos envolvendo grandes personalidades do mundo gospel brasileiro, ou ainda, falar algo sobre os absurdos antiéticos que tais pessoas executam em nome de uma fé insana e sem nexo, onde temos que ignorar as realidades do nosso mundo e do nosso país que é composto por uma grande maioria humilde, vítima de anos de exploração, roubo, corrupção e má distribuição de renda, e achar que Deus vai ser o nosso padrinho no nosso utópico sonho americano de vida.
É muito decepcionante assistir um pregador na TV dizer que você tem que ser rico porque a pobreza é uma maldição do diabo, e pensar que este mentecapto deve viver em uma outra dimensão aonde não existem favelas, moradores de rua, crianças abandonadas, aposentados recebendo um salário mínimo mensal e famílias que irão almoçar e não terão um jantar. E como não se irritar com outro que proclama cura a baciadas, uma espécie de Dr. Fritz Gospel, que acorda pela manhã em seu palacete e esquece que há pessoas nos corredores fétidos de hospitais superlotados, e outros tantos que morrem porque não conseguiram atendimento médico de qualidade. E ainda todos aqueles que com sorriso marqueteiro prometem que se você cumprir todos os ritos religiosos ( inclusive o de doar grandes quantias de dinheiro ), você viverá blindado e sem problemas, num mundo cor de rosa, onde doenças e violência não te alcançam e sua vida será um verdadeiro céu de brigadeiro. O que acontece? Simples. As pessoas se decepcionam, porque essa fé insana não abarca nossa realidade, e logo os iludidos com tais promessas descobriram isso, da pior maneira possível. Esta promessa vazia nunca esteve na boca de Jesus ou de seus discipulos. Ao olhar para a Biblia vejo Jesus declarando aos seus discipulos que eles seriam como ovelhas no meio de lobos, que no mundo teriam aflições porque ele também sofreu e como o servo não é maior que seu senhor e eles não estaríam blindados. As promessas de Jesus apontam que nós nunca mais estaríamos sozinhos, e que em meio as dificuldades da nossa vida ele passaria todas conosco, nos consolado e nos encorajando a tocar o barco adiante.
Não quero viver a minha fé desta maneira, insana e desumanizada, iludido com promessas de riqueza e vida boa, ignorando os grandes problemas do nosso mundo, coisa que nem Jesus e os discipulos fizeram, ao contrário, pois eles sempre lutaram por uma sociedade digna e justa. Não quero que minha relação com Deus me blinde dos percalços da vida, e que ele me revista de uma carapuça ou de uma bolha aonde os problemas não me alcancem, pois seria um horror em meio a tanto sofrimento e dificuldades trocar com Deus uma vida de obediencia por garantias de segurança contra doenças e acidentes. Tudo que eu preciso é a certeza de que Deus está comigo e que não estou sozinho neste mundo, e o Evangelho me garante exatamente isso. O que motiva a estar com Ele não são as garantias que terei, mas saber que seu amor por mim é tão grande e me atinge de maneira tal, que é impossível não ser sensibilzado.
Não consigo evitar ser sensibilizado pelo seu amor.
Fé, pregada de uma maneira tão distorcida, transformando filhos de Deus em mesquinhos e avarentos, negociadores e sem misericórdia, levando pessoas a viverem iludidas. Minha visão de fé não compactua com essa realidade, mas, vai na contramão das massas.
Porque não desisto? Porque não abandono? Porque não vou tocar minha vida e esquecer toda essa história? Simples. A resposta está no capítulo 06 do Evangelho de João quando Pedro diz a Jesus: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus”. Não desisto porque acredito nos ideais de Jesus, e quero fazer parte desta realidade, mesmo que em determinados momentos seja intragável ver e ouvir certas coisas. Não desisto porque amo a Deus.
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